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  • Foto do escritorJoão Quintela

"Estas fotografias parecem Pinturas"

Atualizado: 24 de mar. de 2022

Tenho neste momento uma exposição de fotografia na Sala Hélène de Beauvoir da Biblioteca da Universidade de Aveiro, com o Grupo Momentos de Natureza de que faço parte, e por curiosidade foi ver o “livro de Visitas” só para ter uma noção do sentimento geral sobre a exposição e sobre os trabalhos expostos. Mais que uma vez alguns trabalhos (cheira-me que os meus estão lá encaixados) foram descritos como “parecendo pinturas”. Diacho.


Já não é a primeira vez que me dizem que as minhas fotografias, a minha arte, parece Pintura.

Sempre que me dizem qualquer variação sobre esta frase fico de pé atrás; não sei bem se é um elogio, e acima de tudo não sei bem se gosto desse elogio. Eu não faço pinturas, faço fotografias que, apesar de tudo, são meios diferentes. Não gosto muito, na verdade acho desnecessário, focar-me nas diferenças entre Pintura e fotografia, como se o meio fosse importante para a criação da obra. Não é. O que importa é o que os vários autores, sejam pintores, fotógrafos, desenhadores – enfim os vários artistas (e uso a palavra sem medo) mostram ao público.


Conheço suficientemente bem a história da pintura e a história da fotografia – a história da arte no geral – para não ficar melindrado com todas as confusões criadas à volta do conceito da Fotografia como Arte. Apesar de tudo são vários séculos de diferença, pelo que a fotografia, quase a fazer 200 anos, ainda é muito jovem e imberbe. O que sempre me impressionou é o facto de serem, maioritariamente os próprios fotógrafos, os que mais contribuem para essa menorização da fotografia como arte. Mas estou a fugir do tema que me traz aqui.


Tudo isto tem a ver com a forma como as pessoas no geral – e incluo muitos fotógrafos aqui – olham para a fotografia; que deve ser uma cópia do real; que deve ser o mais fiel possível à realidade do momento; que não pode mentir….


De uma vez por todas; uma fotografia não é uma cópia do real. Uma fotografia é uma interpretação de uma certa realidade no sentir sensível de um autor. Agora que isso é complicado de fazer com um meio que parece uma fotocopiadora, também acontece. E é aí a grande diferença entre a fotografia como Arte e a fotografia como registo do real. Todos nós percebemos a diferença entre um texto dramático, de uma notícia de um jornal, de um texto publicitário ou de uma poesia; há diferenças, mas será um “melhor” ou mais adequado que outro? Para que fique claro não pretendo defender um neopictoralismo a favor do Realismo ou o seu contrário. Acho ambas as abordagens capazes de produzir tanto arte como banalidades.

Percebo que as pessoas digam, sem qualquer maldade e sem pensar muito naquilo, que uma fotografia parece uma pintura; não me parece que façam por mal, mas no fundo estão a menorizar uma fotografia perante uma pintura e isso é o que me perturba.



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